Como o TikTok Shop está transformando o marketing de influência?

Com a chegada oficial ao Brasil no início de maio , o TikTok Shop já se posiciona como uma grande promessa para o varejo digital e um divisor de águas no universo do marketing de influência. Mais do que apenas uma nova funcionalidade, o marketplace da plataforma muda a forma como marcas e criadores de conteúdo se relacionam — tanto com seus públicos quanto entre si.

Especialistas entrevistados pelo Meio & Mensagem já destacavam que a entrada da plataforma no país traria oportunidades relevantes para agências e marcas se adaptarem às novas regras da economia da atenção. Mais do que nunca, torna-se essencial unir o poder da influência com resultados concretos em conversão, posicionando os creators como peças-chave nesse ecossistema.

Diferente de redes como Instagram ou Facebook — que priorizam interações entre amigos e seguidores — o TikTok se baseia em interesses e comportamento. Isso significa que vídeos com alto poder de engajamento podem se tornar virais mesmo se postados por perfis com poucos seguidores, como explica Alexandre Spínola, diretor-executivo da 4in.ag.

Segundo ele, o TikTok Shop introduz uma nova lógica de negócios para o universo da influência, já bastante madura nos Estados Unidos e agora em plena expansão no Brasil. “O criador de conteúdo passa a ter uma nova fonte de receita através da venda direta de produtos — o que, em muitos casos, pode ser mais lucrativo do que a monetização tradicional por visualizações ou parcerias”, comenta. Exemplos de sucesso dessa estratégia incluem nomes como Mr. Beast, nos EUA, e Bianca Andrade, a Boca Rosa, no Brasil.

Uma nova jornada de compra: sem sair da plataforma

O grande diferencial do TikTok Shop está em oferecer uma experiência de compra integrada. Ou seja, o usuário pode descobrir, conhecer e adquirir um produto diretamente pelo aplicativo, sem a necessidade de ser redirecionado a sites externos. Isso torna o papel dos criadores de conteúdo ainda mais relevante — são eles que, com autenticidade e criatividade, conduzem o usuário até a decisão de compra.

Talita Rock, diretora de casting da Suba, destaca que, nesse novo cenário, a criatividade passa a ser o principal ativo dentro do e-commerce. A plataforma favorece conteúdos que instigam o desejo de compra imediata — e, por isso, vídeos espontâneos, lives e conteúdos no estilo “unboxing” ganham espaço.

Segundo ela, o segredo está em criar vídeos que não pareçam um anúncio. O conteúdo precisa entreter, ser leve e mostrar o produto em uso real. “Não é sobre fazer propaganda, mas sim sobre vender por meio de uma boa história”, afirma.

Monetização democrática e criadores independentes

O TikTok sempre foi terreno fértil para descoberta de novos talentos — e, agora, com o TikTok Shop, essa vocação se estende ao universo das vendas. Segundo dados da BrandLovrs (2024), influenciadores menores, com públicos mais engajados, apresentam melhores métricas de conversão e alcance do que os grandes perfis. Esse cenário favorece pequenos criadores e até empreendedores, que ganham espaço para vender seus produtos ou promover marcas.

O Programa de Afiliados da plataforma já permite que influenciadores com mais de 18 anos e cinco mil seguidores participem das vendas. Eles podem solicitar produtos para teste e divulgação, recebendo comissões sobre as vendas. Em outra frente, as próprias marcas escolhem os criadores com os quais desejam colaborar, definindo condições personalizadas.

Para Talita, essa estrutura oferece mais liberdade ao criador, que pode negociar diretamente e divulgar produtos com mais autonomia e autenticidade. Ela destaca que impulsos de compra são mais eficazes quando combinam bom storytelling, demonstração prática dos produtos e consistência criativa.

Spínola reforça: “Mais do que vender, é sobre criar experiências que façam sentido para quem está do outro lado da tela, dentro do fluxo natural da plataforma”.

Influência como cocriação

Embora o marketing de influência esteja consolidado entre as marcas, o mercado ainda está amadurecendo na forma como usa criadores de conteúdo para transmitir valores e posicionamento. Muitos influenciadores também buscam fortalecer sua imagem junto às marcas, e para isso, desejam participar ativamente do processo criativo.

Talita Rock defende que os criadores não devem ser vistos apenas como mídia, mas sim como parceiros criativos. “O mercado está mudando. A influência pela influência já não se sustenta. O conteúdo precisa ter propósito — seja informativo, educativo ou criativo”.

Essa abordagem requer envolvimento mais profundo: o criador precisa conhecer o produto, testá-lo, entender seu valor, participar das reuniões com a marca e, só então, desenvolver conteúdos autênticos e alinhados à proposta.

Hoje, o TikTok já disponibiliza a plataforma TikTok One, que conecta anunciantes a criadores e agências, facilitando parcerias estruturadas. Para Spínola, trata-se de um ensaio promissor rumo a uma relação mais colaborativa entre marcas e influenciadores.

Perspectivas futuras: entretenimento como força de vendas

Especialistas acreditam que o futuro do TikTok Shop está diretamente ligado à criação de conteúdo espontâneo e envolvente, com as vendas sendo impulsionadas por esse formato. À medida que o recurso se consolida no Brasil, o conteúdo deixa de ser apenas suporte para campanhas e passa a ser um verdadeiro canal de performance.

Um exemplo dessa nova geração de creators é Thiago Augusto, o Jornada Top, que já soma mais de 3,2 milhões de seguidores e 53 milhões de curtidas. Seu conteúdo se baseia em testar e demonstrar produtos de maneira acessível e divertida — um formato que deve se multiplicar com o TikTok Shop.

Spínola acredita que esse modelo de criador pode crescer a ponto de se tornar um nicho próprio, comparável ao que foram Polishop e Shoptime no passado — com a diferença de que agora os criadores têm poder real de influência e engajamento com suas comunidades.

Por fim, ele aponta que essa nova dinâmica pode, inclusive, gerar fusões e aquisições no setor, com empresas e agências se adaptando ao crescimento desse formato como principal canal de vendas digitais nos próximos anos.

 

Fonte: Meio e Mensagem